quinta-feira, 8 de julho de 2010

DIVULGUE ESTA LISTA E FAÇA USO DELA, O MEIO AMBIENTE AGRADECE!!!

1. TAMPE SUAS PANELAS ENQUANTO COZINHA. Parece óbvio, não é? E é mesmo! Ao tampar as panelas enquanto cozinha você aproveita o calor que simplesmente se perderia no ar.

2. USE UMA GARRAFA TÉRMICA COM ÁGUA GELADA. Compre daquelas garrafas térmicas de acampamento, de 2 ou 5 litros. Abasteça-a de água bem gelada com uma bandeja de cubos de gelo pela manhã. Você terá água gelada até a noite e evitará o abre-fecha da geladeira toda vez que alguém quiser beber um copo d’água.

3. APRENDA A COZINHAR EM PANELA DE PRESSÃO. Acredite… dá pra cozinhar tudo em panela de pressão: Feijão, arroz, macarrão, carne, peixe etc… Muito mais rápido e economizando 70% de gás.

4. COZINHE COM FOGO MÍNIMO. Se você não faltou às aulas de física no 2º grau você sabe: Não adianta, por mais que você aumente o fogo, sua comida não vai cozinhar mais depressa, pois a água não ultrapassa 100ºC em uma panela comum. Com o fogo alto, você vai é queimar sua comida.

5. ANTES DE COZINHAR, RETIRE DA GELADEIRA TODOS OS INGREDIENTES DE UMA SÓ VEZ. Evite o abre-fecha da geladeira toda vez que seu cozido precisar de uma cebola, uma cenoura, etc…

6. COMA MENOS CARNE VERMELHA. A criação de bovinos é um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa. Não é piada. Você já sentiu aquele cheiro pavoroso quando você se aproximou de alguma fazenda/criação de gado? Pois é: É metano, um gás inflamável, poluente, e mega fedorento. Além disso, a produção de carne vermelha demanda uma quantidade enorme de água. Para você ter uma idéia: Para produzir 1kg de carne vermelha são necessários 200 litros de água potável. O mesmo quilo de frango só consome 10 litros.

7. NÃO TROQUE O SEU CELULAR. Já foi tempo que celular era sinal de status. Hoje em dia qualquer Zé Mané tem. Trocar por um mais moderno para tirar onda? Ninguém se importa. Fique com o antigo pelo menos enquanto estiver funcionando perfeitamente ou em bom estado. Se o problema é a bateria, considere o custo/benefício trocá-la e descartá-la adequadamente, encaminhando-a a postos de coleta. Celulares trouxeram muita comodidade à nossa vida, mas utilizam de derivados de petróleo em suas peças e metais pesados em suas baterias. Além disso, na maioria das vezes sua produção é feita utilizando mão de obra barata em países em desenvolvimento. Utilize seus gadgets até o final da vida útil deles, lembre-se de que eles certamente não foram nada baratos.

8. COMPRE UM VENTILADOR DE TETO. Nem sempre faz calor suficiente pra ser preciso ligar o ar condicionado. Na maioria das vezes um ventilador de teto é o ideal para refrescar o ambiente gastando 90% menos energia. Combinar o uso dos dois também é uma boa idéia. Regule seu ar condicionado para o mínimo e ligue o ventilador de teto.

9. USE SOMENTE PILHAS E BATERIAS RECARREGÁVEIS. É certo que são caras, mas ao uso em médio e longo prazo elas se pagam com muito lucro. Duram anos e podem ser recarregadas em média 1000 vezes.

10. LIMPE OU TROQUE OS FILTROS O SEU AR CONDICIONADO. Um ar condicionado sujo representa 158 quilos de gás carbônico a mais na atmosfera por ano.

11. TROQUE SUAS LÂMPADAS INCANDESCENTES POR FLUORESCENTES. Lâmpadas fluorescentes gastam 60% menos energia que uma incandescente. Assim, você economizará 136 quilos de gás carbônico anualmente.

12. ESCOLHA ELETRODOMÉSTICOS DE BAIXO CONSUMO ENERGÉTICO. Procure por aparelhos com o selo do Procel (no caso de nacionais) ou Energy Star (no caso de importados).

13. NÃO DEIXE SEUS APARELHOS EM STANDBY. Simplesmente desligue ou tire da tomada quando não estiver usando um eletrodoméstico. A função de standby de um aparelho usa cerca de 15% a 40% da energia consumida quando ele está em uso.

14. MUDE SUA GELADEIRA OU FREEZER DE LUGAR. Ao colocá-los próximos ao fogão, eles utilizam muito mais energia para compensar o ganho de temperatura. Mantenha-os afastados pelos menos
15cm das paredes para evitar o superaquecimento. Colocar roupas e tênis para secar atrás deles então, nem pensar!

15. DESCONGELE GELADEIRAS E FREEZERS ANTIGOS A CADA 15 OU 20 DIAS. O excesso de gelo reduz a circulação de ar frio no aparelho, fazendo que gaste mais energia para compensar. Se for o caso, considere trocar de aparelho. Os novos modelos consomem até metade da energia dos modelos mais antigos, o que subsidia o valor do eletrodoméstico a médio/longo prazo.

16. USE A MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS/LOUÇA SÓ QUANDO ESTIVEREM CHEIAS. Caso você realmente precise usá-las com metade da capacidade, selecione os modos de menor consumo de água. Se você usa lava-louças, não é necessário usar água quente para pratos e talheres pouco sujos. Só o detergente já resolve.

17. RETIRE IMEDIATAMENTE AS ROUPAS DA MÁQUINA DE LAVAR QUANDO ESTIVEREM LIMPAS. As roupas esquecidas na máquina de lavar ficam muito amassadas, exigindo muito mais trabalho e tempo para passar e consumindo assim muito mais energia elétrica.

18. TOME BANHO DE CHUVEIRO. E de preferência, rápido. Um banho de banheira consome até quatro vezes mais energia e água que um chuveiro.

19. USE MENOS ÁGUA QUENTE. Aquecer água consome muita energia. Para lavar a louça ou as roupas, prefira usar água morna ou fria.

20. PENDURE AO INVÉS DE USAR A SECADORA. Você pode economizar mais de 317 quilos de gás carbônico se pendurar as roupas durante metade do ano ao invés de usar a secadora.

21. NUNCA É DEMAIS LEMBRAR: RECICLE NO TRABALHO E EM CASA. Se a sua cidade ou bairro não tem coleta seletiva, leve o lixo até um posto de coleta. Existem vários na rede Pão de Açúcar. Lembre-se de que o material reciclável deve ser lavado (no caso de plásticos, vidros e metais) e dobrado (papel).

22. FAÇA COMPOSTAGEM. Cerca de 3% do metano que ajuda a causar o efeito estufa é gerado pelo lixo orgânico doméstico. Aprenda a fazer compostagem: além de reduzir o problema, você terá um jardim saudável e bonito.

23. REDUZA O USO DE EMBALAGENS. Embalagem menor é sinônimo de desperdício de água, combustível e recursos naturais. Prefira embalagens maiores, de preferência com refil. Evite ao máximo comprar água em garrafinhas, leve sempre com você a sua própria.

24. COMPRE PAPEL RECICLADO. Produzir papel reciclado consome de 70 a 90% menos energia do que o papel comum, e poupa nossas florestas.

25. UTILIZE UMA SACOLA PARA AS COMPRAS. Sacolinhas plásticas descartáveis são um dos grandes inimigos do meio-ambiente. Elas não apenas liberam gás carbônico e metano na atmosfera, como também poluem o solo e o mar. Quando for ao supermercado, leve uma sacola de feira ou suas próprias sacolinhas plásticas.

26. PLANTE UMA ÁRVORE. Uma árvore absorve uma tonelada de gás carbônico durante sua vida. Plante árvores no seu jardim ou inscreva-se em programas como o SOS Mata Atlântica ou Iniciativa Verde.

27. COMPRE ALIMENTOS PRODUZIDOS NA SUA REGIÃO. Fazendo isso, além de economizar combustível, você incentiva o crescimento da sua comunidade, bairro ou cidade.

28. COMPRE ALIMENTOS FRESCOS AO INVÉS DE CONGELADOS. Comida congelada além de mais cara, consome até 10 vezes mais energia para ser produzida. É uma praticidade que nem sempre vale a pena.

29. COMPRE ORGÂNICOS. Por enquanto, alimentos orgânicos são um pouco mais caros, pois a demanda ainda é pequena no Brasil. Mas você sabia que, além de não usar agrotóxicos, os orgânicos respeitam os ciclos de vida de animais, insetos e ainda por cima absorvem mais gás carbônico da atmosfera que a agricultura “tradicional”? Se toda a produção de soja e milho dos EUA fosse orgânica, cerca de 240 bilhões de quilos de gás carbônico seriam removidos da atmosfera. Portanto, incentive o comércio de orgânicos para que os preços possam cair com o tempo.

30. ANDE MENOS DE CARRO. Use menos o carro e mais o transporte coletivo (ônibus, metrô) ou o limpo (bicicleta ou a pé). Se você deixar o carro em casa 2 vezes por semana, deixará de emitir 700 quilos de poluentes por ano.

31. NÃO DEIXE O BAGAGEIRO VAZIO EM CIMA DO CARRO. Qualquer peso extra no carro causa aumento no consumo de combustível. Um bagageiro vazio gasta 10% a mais de combustível, devido ao seu peso e aumento da resistência do ar.

32. MANTENHA SEU CARRO REGULADO. Calibre os pneus a cada 15 dias e faça uma revisão completa a cada seis meses, ou de acordo com a recomendação do fabricante. Carros regulados poluem menos. A manutenção correta de apenas 1% da frota de veículos mundial representa meia tonelada de gás carbônico a menos na atmosfera.

33. LAVE O CARRO A SECO. Existem diversas opções de lavagem sem água, algumas até mais baratas do que a lavagem tradicional, que desperdiça centenas de litros a cada lavagem. Procure no seu posto de gasolina ou no estacionamento do shopping.

34. QUANDO FOR TROCAR DE CARRO, ESCOLHA UM MODELO MENOS POLUENTE. Apesar da dúvida sobre o álcool ser menos poluente que a gasolina ou não, existem indícios de que parte do gás carbônico emitido pela sua queima é reabsorvida pela própria cana de açúcar plantada. Carros menores e de motor 1.0 poluem menos. Em cidades como São Paulo, onde no horário de pico anda-se a 10km/h, não faz muito sentido ter carros grandes e potentes para ficar parados nos congestionamentos.

35. USE O TELEFONE OU A INTERNET. A quantas reuniões de 15 minutos você já compareceu esse ano, para as quais teve que dirigir por quase uma hora para ir e outra para voltar? Usar o telefone ou skype pode poupar você de stress, além de economizar um bom dinheiro e poupar a atmosfera.

36. VOE MENOS, REÚNA-SE POR VIDEOCONFERÊNCIA. Reuniões por videoconferência são tão efetivas quanto as presenciais. E deixar de pegar um avião faz uma diferença significativa para a atmosfera.

37. ECONOMIZE CDS E DVDS, CDs e DVDs. Sem dúvida são mídias eficientes e baratas, mas você sabia que um CD leva cerca de 450 anos para se decompor e que, ao ser incinerado, ele volta como chuva ácida (como a maioria dos plásticos)? Utilize mídias regraváveis, como CD-RWs, drives USB ou mesmo e-mail ou FTP para carregar ou partilhar seus arquivos. Hoje em dia, são poucos arquivos que não podem ser disponibilizados virtualmente ao invés de em mídias físicas.

38. PROTEJA AS FLORESTAS. Por anos os ambientalistas foram vistos como “eco-chatos”. Mas em tempos de aquecimento global, as árvores precisam de mais defensores do que nunca. O papel delas no aquecimento global é crítico, pois mantém a quantidade de gás carbônico controlada na atmosfera.

39. CONSIDERE O IMPACTO DE SEUS INVESTIMENTOS. O dinheiro que você investe não rende juros sozinho. Isso só acontece quando ele é investido em empresas ou países que dão lucro. Na onda da sustentabilidade, vários bancos estão considerando o impacto ambiental das empresas em que investem o dinheiro dos seus clientes. Informe-se com o seu gerente antes de escolher o melhor investimento para você e o meio ambiente.

40. INFORME-SE SOBRE A POLÍTICA AMBIENTAL DAS EMPRESAS QUE VOCÊ CONTRATA. Seja o banco onde você investe ou o fabricante do shampoo que utiliza, todas as empresas deveriam ter políticas ambientais claras para seus consumidores. Ainda que a prática esteja se popularizando, muitas empresas ainda pensam mais nos lucros e na imagem institucional do que em ações concretas. Por isso, não olhe apenas para as ações que a empresa promove, mas também a sua margem de lucro alardeada todos os anos. Será mesmo que eles estão colaborando tanto assim?

41. DESLIGUE O COMPUTADOR. Muita gente tem o péssimo hábito de deixar o computador de casa ou da empresa ligado ininterruptamente, às vezes fazendo downloads, às vezes simplesmente por comodidade. Desligue o computador sempre que for ficar mais de 2 horas sem utilizá-lo e o monitor por até quinze minutos.

42. CONSIDERE TROCAR SEU MONITOR. O maior responsável pelo consumo de energia de um computador é o monitor. Monitores de LCD são mais econômicos, ocupam menos espaço na mesa e estão ficando cada vez mais baratos. O que fazer com o antigo? Doe a instituições como o Comitê para a Democratização da Informática.

43. NO ESCRITÓRIO, DESLIGUE O AR CONDICIONADO UMA HORA ANTES DO FINAL DO EXPEDIENTE. Num período de 8 horas, isso equivale a 12,5% de economia diária, o que equivale a quase um mês de economia no final do ano. Além disso, no final do expediente a temperatura começa a ser mais amena.

44. NÃO PERMITA QUE AS CRIANÇAS BRINQUEM COM ÁGUA. Banho de mangueira, guerrinha de balões de água e toda sorte de brincadeiras com água são sem dúvida divertidas, mas passam a equivocada idéia de que a água é um recurso infinito, justamente para aqueles que mais precisam de orientação, as crianças. Não deixe que seus filhos brinquem com água, ensine a eles o valor desse bem tão precioso.

45. NO HOTEL, ECONOMIZE TOALHAS E LENÇOIS. Use o bom senso… Você realmente precisa de uma toalha nova todo dia? Você é tão imundo assim? Em hotéis, o hóspede tem a opção de não ter as toalhas trocadas diariamente, para economizar água e energia. Trocar uma vez a cada 3 dias já está de bom tamanho. O mesmo vale para os lençóis, a não ser que você mije na cama…

46. PARTICIPE DE AÇÕES VIRTUAIS. A Internet é uma arma poderosa na conscientização e mobilização das pessoas. Um exemplo é o site ClickÁrvore, que planta árvores com a ajuda dos internautas. Informe-se e aja!

47. INSTALE UMA VÁLVULA NA SUA DESCARGA. Instale uma válvula para regular a quantidade de água liberada no seu vaso sanitário: mais quantidade para o número 2, menos para o número 1!

48. NÃO PEÇA COMIDA PARA VIAGEM. Se você já foi até o restaurante ou à lanchonete, que tal sentar um pouco e curtir sua comida ao invés de pedir para viagem? Assim você economiza as embalagens de plástico e isopor utilizadas.

49. REGUE AS PLANTAS À NOITE. Ao regar as plantas à noite ou de manhãzinha, você impede que a água se perca na evaporação, e também evita choques térmicos que podem agredir suas plantas.

50. FREQUENTE RESTAURANTES NATURAIS/ORGÂNICOS. Com o aumento da consciência para a preservação ambiental, uma gama enorme de restaurantes naturais, orgânicos e vegetarianos está se espalhando pelas cidades. Ainda que você não seja vegetariano, experimente os novos sabores que essa onda verde está trazendo e assim estará incentivando o mercado de produtos orgânicos, livres de agrotóxicos e menos agressivos ao meio-ambiente.

51. VÁ DE ESCADA. Para subir até dois andares ou descer três, que tal ir de escada? Além de fazer exercício, você economiza energia elétrica dos elevadores.






















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sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Metáfora Ambiental - O agir humano atual e o meio ambiente

EcoAgência > Artigos

Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2010

Os homens são induzidos para a ganância crematística (acumulação constante de bens materiais por prazer) e, por ela, a humanidade altera definitivamente o meio ambiente, rompendo a homeostasia planetária. Trata-se da busca ilusória do tão desejado desenvolvimento pessoal e do progresso.

Por Millos A. Stringuini

Os humanos desejam e estão incessantemente realizando mudanças em suas vidas. Esse desejo e agir, quase incontrolável, é oriundo de uma constante insatisfação psíquica frente à dinâmica das realidades cotidianas, ou seja, uma carência permanente de “completude psíquica”. Todos buscam uma revolução e um sentido para suas vidas.
Por isso, constantemente, os humanos pensam e trabalham para mudar a si mesmos, almejando que os outros, reais ou imaginários, também ajudem nessa mudança. Em suas crenças antropocêntricas e na política buscam a ilusão da mudança para uma utópica melhor condição de vida (desenvolvimento e progresso) e a eternidade de suas existências.
Já disse o poeta; - eu quero ser uma metamorfose ambulante; eu preciso ser uma metamorfose ambulante.
Pela ação desse contexto psíquico os homens são induzidos para a ganância crematística (acumulação constante de bens materiais por prazer) e, por ela, a humanidade altera definitivamente o meio ambiente, rompendo a homeostasia planetária. Trata-se da busca ilusória do tão desejado desenvolvimento pessoal e do progresso.

O slogan metafórico do Fórum Social Mundial é a prova inconteste desse constante desejo humano: “um mundo melhor é possível”. Essa metáfora demonstra que o pensamento geral da humanidade é pessimista em relação às suas vidas e seu futuro.
“O mundo atual não é bom; precisa ser melhorado”.
Todavia, a realidade é outra. O que é não é bom é o agir humano atual em relação à ecologia e sua própria espécie, pois inegavelmente o planeta e sua dinâmica natural estão próximos da perfeição[2]. Frente a essa realidade, é necessário procurar respostas para as seguintes questões:

- Por que os humanos têm necessidade psíquica ansiosa de alterar suas realidades e o meio ambiente?

- Por que a humanidade, amplamente informada sobre a destruição que está causando no planeta, não altera imediatamente suas condutas e comportamentos?

Para começar a busca dessas respostas não deve ser esquecido que nenhum outro ser vivo no planeta é insatisfeito com a sua condição e realidade de vida. Nenhum deles deseja um mundo melhor ou pior. O mundo é aquele que se apresenta para a jornada da vida e nada mais.

Em 1993, Nelson Rodrigues escreveu:
"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo".

Os demais seres vivos, ao longo de suas existências, também produzem alterações no meio ambiente, mas suas atividades de sobrevivência não causam danos irreversíveis para a estrutura e a dinâmica do planeta, tal como acontece com os humanos. O planeta Terra nunca foi habitado por predadores tão destruidores como os humanos. A capacidade de produzir destruição dos humanos é inigualável. Basta pensar no insano arsenal militar nuclear atualmente existente no planeta.
Os humanos deliberadamente colocam em risco toda a vida no planeta com suas minerações e poluições diversas, sua economia e suas crenças[3]; os outros seres vivos não. Para realizar e atender a metáfora psíquica de mudar o mundo, na busca de uma ilusória completude para suas vidas, os humanos violam e destroem os elementos estruturais da natureza causando danos irreversíveis ao planeta, comprometendo a vida das futuras gerações de seres vivos e humanos.

A bem da verdade, o teatro da realidade social dos humanos high-tec se desenrola, cotidianamente, entre a miséria extrema e a opulência delirante; entre a ignorância e a inteligência; entre o ódio e as paixões para com a vida e os delírios transgressionais (auto) agressivos.
O amor entre humanos e para com determinados animais e plantas existe. Todavia é insuficiente para gerar a tão deseja completude psíquica humana. O estado psíquico de completude, ilusoriamente, seria a condição ideal de vida dos humanos - paz e amor - e um perfeito relacionamento com a natureza e o planeta.

Goethe disse:
"Nada mais terrível do que uma ignorância ativa".
Sem a mínima dúvida, o elemento que necessita ser mudado rapidamente é o agir ignorante coletivo e ativo da sociedade humana sobre o planeta. Essa mudança necessária é possível, especialmente por objetivar corrigir os flagrantes enormes erros ecológicos já cometidos pela humanidade. Continuar alterando o mundo com a visão antropocêntrica do Fórum Mundial Social , psiquicamente idêntica àquela do Fórum de Davos, será dar continuidade ao processo de destruição do planeta.

No mesmo contexto, o fracasso da Conferência de Copenhague (COP 15) demonstra que a humanidade dificilmente será capaz de mudar seus comportamentos destrutivos para com o planeta se não houver uma profunda mudança na psique humana. A consciência ecológica coletiva até hoje construída pelos processos de educação ambiental formal e informal não é suficiente para resolver os desafios ambientais do século XXI.
Para tentar alterar esse padrão atual de conduta autodestrutiva da humanidade em relação à natureza é preciso entender quais sãos as reais causas do agir humano, ou seja, quais são os processos psíquicos que impelem os humanos para uma conduta desarmônica com o planeta.

- O Agir humano para a desarmonia com o meio ambiente.

O agir cotidiano dos humanos tem sua gênese fundada em processos neurofisiológicos e psíquicos. Os processos neurofisiológicos humanos por si só geram poucos comportamentos diferenciais quando comparados com os primatas superiores, visto que são fenômenos físicos, químicos e neurobiológicos interativos que estão sujeitos e limitados por leis naturais.

A porção animal dos seres humanos é muito semelhante a dos primatas.
Todavia, a psique humana é profundamente diferente dos outros seres vivos. Ela tem sua dinâmica estruturada na interação entre milhares de desejos e formulações metafóricas formando os pensamentos e as ações humanas deles resultantes.
Em sendo inata à espécie, a dinâmica psíquica de caráter metafórico dos seres humanos é imutável. Pode ser comparada com os ciclos biogeoquímicos do planeta, ou mesmo, com o Ciclo de Krebs nos processos metabólicos. Ela nos diferencia integralmente dos outros animais, pois esses não constroem metáforas psíquicas, os humanos sim. A busca constante da “completude psíquica e física” é típica dos humanos.

Nos processos psicodinâmicos os humanos têm alguma capacidade de realizar pequenas intervenções conscientes de caráter temporário (variabilidade adaptativa), as quais, nem sempre, serão benéficas para a pessoa, para o meio ambiente e para a sociedade.

Todavia, os humanos não conseguem realizar mudanças no comportamento psicológico metafórico, seja em sua essência, seja em sua dinâmica. Tal como as leis da natureza, o pensar e o agir como resultado de múltiplos desejos e processos metafóricos é imutável. A humanidade continuará pensando através de metáforas “ad aeternum”.
As inclusões de reguladores educacionais e legais, éticos e morais no superego não alteram a estrutura e a dinâmica de funcionamento da psique humana; somente reduzem a força de ação predatória e de destruição. Confrontados com ameaças urgentes, os humanos retornam parcialmente a sua condição animal. Em sua expressão violenta usam a força de seus pensamentos metafóricos para potencializar sua condição de animais em combate. As estratégias militares e as guerras são também metáforas desenvolvidas pela psique humana.
Nesse contexto extremamente amplo, algumas metáforas estruturais do pensamento humano e seus resultados são importantes para começar a entender o agir dos humanos em relação ao meio ambiente.
A primeira metáfora importante é aquela que determina o comportamento dos humanos em relação ao meio ambiente como local de descarte, ou seja, tudo aquilo que não é mais desejado ou considerado como elemento útil para a existência e sobrevivência é sempre lançado no meio ambiente. A “metáfora de descarte”.
Os processos psíquicos metafóricos determinantes da noção de interior e exterior do corpo humano e do eu geram o comportamento continuado de descarte daquilo que não mais nos serve. A parte externa ao corpo e ao “eu” tem pouca valia e, por isso, para ela são enviados os descartes de todos os tipos. O “eu e o corpo” é um “todo limitado identificado e reconhecível pelo narcisismo” e o meio ambiente é um “quase nada ilimitado em desvalia”. Só tem valor no meio ambiente aquilo que pode servir para o “eu e o corpo”.
A vida dos outros seres vivos não vale quase nada se não servir ou ameaçar o “eu e o corpo”. Eliminar a vida de uma formiga ou de um inseto é um ato sem culpa ou consequência para os humanos; cortar uma árvore também. Somente a vida dos humanos tem valia.
Esse comportamento inconsciente e de resultados semiconscientes (parcialmente conhecidos) dos humanos é muito fácil de ser comprovado.
Por exemplo, os humanos jogam nas ruas, avenidas e estradas o lixo gerado em seus deslocamentos. Através das aberturas das casas, os tapetes e panos são sacudidos, as baganas de cigarros são jogadas fora, os escarros são lançados, os cadáveres dos insetos que invadiram as habitações humanas são despejados, etc.

Tudo aquilo que não tem mais serventia ou valia é “jogado para fora” do “território do eu corpóreo”, bem como de sua extensão protetora, a habitação humana.
Esse comportamento representa um duplo engodo de identificação das realidades vivenciadas cotidianamente pelos humanos.

O primeiro engodo corresponde ao fato de que nem tudo que se descarta no meio ambiente é algo negativo, ruim. Por exemplo, os seres vivos descartam no meio ambiente seus gametas reprodutivos e seus excrementos sem que isso represente um problema para a natureza, ao contrário, esses elementos são integrantes da dinâmica ambiental do planeta. Todavia, no caso humano, a situação se transforma em função da dinâmica populacional.

O segundo engodo consiste no fato de que a forma, a concentração, os volumes e a frequência dos descartes humanos se transforma em um problema de poluição de dimensões planetárias. Para a poluição de descartes a humanidade não consegue estabelecer uma racionalidade para uma solução planetária integral e integrada.
A humanidade está inconscientemente auto-interditada para avançar na superação da “metáfora de descarte”, visto que essa metáfora gera em todos os humanos um comportamento aversivo composto aos elementos descartados. A aversão aos descartes sugere temor e afastamento com nojo. Impede também que os humanos assumam, pelo menos, um agir com mínima racionalidade na busca de soluções técnicas completas e definitivas para esse problema, mesmo considerando-se o contexto de uma postura apreendida e perspectivas futuras, econômicas e sociais negativas.
“Jogar a sujeira para baixo do tapete” é o máximo que a humanidade consegue ter como atitude frente à realidade ambiental. Quem se aproxima dos descartes humanos, mais cedo ou mais tarde, aos olhos dos outros passa a fazer parte integrante deles. Quem hoje combate o descarte irresponsável do lixo do consumo humano acaba sendo marginalizado.

Em cooperação ao agravamento do problema, na atualidade mundial pós-revolução industrial, existe a “metáfora de máquina”. Por ela os humanos operam com rituais de máquinas para produzir máquinas que irão gerar máquinas que irão satisfazer a ilusão de busca da felicidade e vida eterna para a humanidade, ou seja, a completude ilusória.

O Prof. Dr. Francisco Martins, médico psicopatologista de renome internacional ensina: “Essas sociedades pós-industriais são amplamente fixadas na metáfora da máquina e a usam como critério de sucesso”.

Os humanos modernos para viverem e obter sucesso precisam estar rodeados de máquinas, tais como automóveis, eletrodomésticos de todos tipos, aviões, equipamentos de ginástica, ferramentas e meios físicos de produção e, sobretudo, adotarem um comportamento de máquinas de produção, de reprodução de produtos em série, de máquinas de esportes ou esportistas agindo como máquinas, em um processo de constante renovação da máquina psíquica em direção à busca maquinal do sucesso financeiro.
Com origem na “metáfora de máquina” nasce a “fé tecnológica” [4]. Por ter uma fé na tecnologia, quase semelhante a uma “fé religiosa”, os humanos voam em aviões. Estão convencidos que essas máquinas geram completude para a vida. Pela mesma fé, andam de automóvel cotidianamente, acreditando que não serão brindados com acidentes graves. Morrem aos milhões todos os anos, mesmo sabendo que essas máquinas e seus meios de produção são as grandes responsáveis pelo aquecimento global.

Essas duas metáforas – de descarte e de máquina – no ambiente psíquico dos processos míticos modernos com fulcro na geração e ampliação continuada dos comportamentos egocêntricos, hedonistas extremados, cotidianamente tem estimulado a prática das compensações emocionais por via do consumismo. Esse também é uma metáfora humana e um ciclo vicioso: consumimos nos consumindo psíquica e fisicamente. A epidemia de obesidade mórbida mundial é um exemplo a ser observado tanto por seu caráter de problema de saúde pública como de perdas econômicas, mas também, por seus aspectos psicossociais e ambientais.
Consumindo em excesso a humanidade descarta também em excesso e, assim, descarta a noção psíquica fundamental do que é ser um organismo vivo no contexto ecológico planetário. Os humanos ditos modernos não querem ser considerados como animais. Passaram para uma nova condição psíquica, ou seja, desejam e estão psiquicamente se transformando em falsas máquinas pensantes – falsos andróides - andróginos.
Os ídolos míticos do cinema moderno, super-homem e homem aranha, homens com super poderes - andróides, capazes de voar e desafiar homens e máquinas poderosas, exterminando o futuro, habitam o inconsciente coletivo das sociedades humanas. O chamado desenvolvimento como significante de humanos masculinos ou femininos cada vez mais próximos das máquinas e mais distantes da natureza é uma realidade.

Coopera para esse quadro o imaginário da potencia sexual continuada associada à forma e ao número de máquinas. Muitos HPs de potência da máquina como indicativo imaginário da potencia sexual masculina e também feminina, bem como as máquinas de prazer sexual dos “sex shops”.
Como os humanos não são máquinas e sim organismos biológicos, em realidade existe associada uma ruptura infelicitante dos ideais de vida aumentando o sentimento de incompletude – vazio existencial. Na medida que a metáfora de máquina é incrementada nas pessoas pela propaganda estimuladora dos desejos de sucesso é criada a falsa expectativa psíquica de que o vazio existencial através do consumo será resolvido. Todavia, sobrevém o incremento do descarte ambiental e o ciclo de destruição ambiental se amplia. Igualmente, os humanos se tornam ciclotímicos, ou seja, passam a apresentar um padrão de personalidade caracterizado por períodos de excitação, euforia ou hiperatividade, alternados com depressão tristeza e inatividade. A pandemia atual de depressão é a prova. Os antidepressivos estão entre os medicamentos mais vendidos no planeta.

Por sua vez, o “mito da salvação” (metafórico), tão bem descrito por Luc Ferry[5], agindo no inconsciente humano como uma das fontes principais da gênese dos sofrimentos humanos, associado às metáforas de descarte e de máquina, forma um conjunto dinâmico de geração incremental da incompletude humana e seu resultado ecológico é a ampliação da destruição ambiental.
Para ter vida com salvação e eternidade é preciso ter muitas máquinas, de preferência muitas delas ou mesmo a maior delas, ou seja, uma nave espacial que miticamente libertará os humanos de sua limitação como seres biológicos terrestres, se possível, para vagar pelo universo infinito em uma “Jornada nas Estrelas – Star Track” reedição metafórica moderna da Arca de Noé. A humanidade irá procurar outro planeta para viver e descartará o planeta Terra.

As pseudomáquinas humanas high-tec, representadas pelos autoproclamados agentes do desenvolvimento econômico social, nada mais são que projetos de humanóides, pois abandonaram parcialmente a noção de realidade da vida como seres biológicos. Estão imersos no mundo virtual, em uma dicotomia psíquica no qual o meio externo é o local de descarte físico dos elementos e excrementos não desejados e o meio virtual é o local de duplicidade psíquica, ou seja, onde se promove o egocentrismo hedonista exacerbado e, ao mesmo tempo, o descartar do lixo psíquico existencial humano. Na internet a imensa maioria das ações está relacionada com o sexo; sexo virtual – sexo humanóide.

Considerações finais.

As metáforas humanas e seus resultados sobre o meio ambiente formam um tema de grandes dimensões que necessita ser amplamente analisado por todos aqueles que conseguirem suplantar intelectualmente os efeitos negativos dessas metáforas. Inegavelmente é impossível esgotar esse tema em algumas páginas. Sua dimensão final está além das capacidades individuais de pensamento e racionalização científica. É um tema para muitas reflexões.
Todavia, sua importância para o futuro do planeta é inegável. A humanidade atingiu um momento paradoxal de sua existência; ou resolve os problemas ambientais e para de destruir o planeta ou continua a agir de forma metaforicamente predatória e condena à morte toda a vida no planeta.

- Será que o tão discutido “sentido da vida humana” é destruir totalmente a vida no planeta Terra?

Agradecimentos.
Esse texto é uma homenagem do autor a seus quatro grandes amigos que trabalham com psicologia e psicanálise. Foi a genialidade deles que inspirou a coragem de construir um texto nesse sentido.

Noblesse oblige: les dames devant:
I. Profa. Dra. Maria do Rosário Dias Varella (Rô); Brasília.
II. Prof. Dr. Francisco Moacir de Melo Catunda Martins (Xico); Brasília.
III. Prof. Dr. Jorge Trindade; Porto Alegre.
IV. Dr. Paulo Alberto Rebelato (Rebe). Porto Alegre.

Millos Augusto Stringhini é Biólogo, Doutor em Ciências do Meio Ambiente - Perito e Consultor Internacional. Membro Fundador de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica. Autodidata em Psicanálise.


Fonte: http://www.ecoagencia.com.br/






Imprensa, Anvisa e interesses espúrios em jogo

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Sexta-feira, 09 de Abril de 2010



                                      Somos o maior mercado para agrotóxicos do mundo, com faturamento estimado em 8 bilhões de dólares. A contrapartida do crescimento agressivo, quase obsceno, do derramamento de veneno em terra brasileira é terrível: contaminação brutal do solo, da água, do ar e dos alimentos e milhares de mortes e de pessoas incapacitadas pela ação dos agrotóxicos. É pouco?



Por Wilson Bueno

Lobbies formidáveis têm se constituído ao longo da trajetória da nossa República para defender interesses políticos e empresariais, quase sempre com prejuízo considerável ao interesse público. Podemos enumerar alguns deles, como os lobbies desencadeados pela indústria tabagista, agroquímica, do amianto, das montadoras, da saúde e mais recentemente da biotecnologia, para só citar alguns deles. Em todos eles, a intenção é uma só: favorecer monopólios, consolidar privilégios, aumentar os lucros, permitir que grupos ou corporações, em cumplicidade com o poder público (???), continuem mandando nesse país, cada vez mais parecido com a "casa da mãe Joana".

Reportagem de capa do Le Monde Diplomatique, de abril de 2010, trata da questão dos agrotóxicos, tantas vezes aqui comentada pela dramaticidade de que se reveste, tendo em vista os prejuízos incalculáveis para a saúde humana e a sustentabilidade do planeta.

Os números que constam da reportagem são contundentes e conhecidos: somos o maior mercado para agrotóxicos do mundo, com faturamento estimado em 8 bilhões de dólares. A contrapartida do crescimento agressivo, quase obsceno, do derramamento de veneno em terra brasileira é terrível: contaminação brutal do solo, da água, do ar e dos alimentos e milhares de mortes e de pessoas incapacitadas pela ação dos agrotóxicos. É pouco?

Neste sentido, é preciso louvar o trabalho corajoso da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária que, há tempos, vem se empenhando para banir da nossa terra alguns produtos, já proibidos em alguns países, e que continuam circulando com impacto nefasto sobre a saúde e o meio ambiente. A mesma ANVISA que também desencadeia luta, muitas vezes desigual, contra os abusos da indústria da saúde (sobretudo as farmacêuticas) que, a todo momento, busca burlar a vigilância das autoridades e particularmente dos cidadãos para engordar os seus lucros abusivos.

Pois bem: o lobby das agroquímicas encontra respaldo, infelizmente, no Ministério da Agricultura, considerado como reduto dos grandes fabricantes (de sementes transgênicas e de agrotóxicos, aliás farinhas do mesmo saco, porque as empresas são basicamente as mesmas), inimigos contumazes, apesar do discurso hipócrita, do meio ambiente.

Neste momento, assistimos a uma luta encarniçada, sangrenta, entre a ANVISA (que tem ao seu lado a competente Fiocruz) e o Sindicato das indústrias de defensivos agrícolas (veneno não tem nada de defensivo, sejamos claros!) para retirar do mercado estes produtos perigosos, mas o processo emperra em virtude da adesão do Ministério da Agricultura às demandas deste lobby poderoso. Repete-se aqui a mesma disputa que ocorre na área dos transgênicos, que hoje pende para os fabricantes de biotecnologia, com o avanço escandaloso sobre a CTNBIO e que pretendem, inclusive, dispensar a rotulagem dos produtos que contêm transgênicos (o negócio é não deixar provas de potenciais danos para saúde, não é mesmo?).

A imprensa brasileira precisa tomar partido, participar deste debate, sob pena de novamente capitularmos diante de interesses empresariais de grande monta e que estão focados no lucro, com a omissão daqueles que deveriam, lá em cima, preservar os interesses dos cidadãos brasileiros.

Não é incomum percebermos, particularmente nas editorias de economia da grande imprensa e nos jornais de negócios (o Valor Econômico é exemplo gritante), a defesa das posições da indústria agroquímica sem qualquer espírito crítico, como se agrotóxico fosse caramelo ou chocolate a ser distribuído para as criancinhas, e não provocasse considerável impacto sócio-ambiental e para a saúde. Os executivos de marketing das empresas do setor circulam tranquilamente pelas páginas destes veículos, assim como os seus diretores de pesquisa e desenvolvimento, travestidos de pesquisadores ou fontes independentes. É preciso lembrar que a indústria agroquímica também transita com desenvoltura pelas escolas de Agronomia, tentando vender a solução química como indutora da produtividade e até, como proclama a indústria da biotecnologia, sua co-irmã, a salvação da fome no mundo.

Está na hora de virarmos o jogo porque, agindo desta forma, estamos efetivamente comprometendo a nossa sustentabilidade, a nossa soberania, porque, aqui como no setor de sementes, assistimos a um avanço formidável de interesses que buscam fechar o cerco a iniciativas que oferecem alternativas para esta contaminação química irreparável. É triste perceber a tentativa de destruição das sementes tradicionais e da agricultura orgânica (cuidado, há também gente vendendo gato por lebre nessa área!) em nome de uma postura e de uma mentalidade transgênicas, comprometidas com monopólios de toda ordem.

Na reportagem do Le Monde Diplomatique, o diretor da ANVISA, Agenor Álvares, revela (o que já anunciamos aqui) a interdição de linhas de produção da Bayer, da Basf e da Syngenta por inúmeras irregularidades e cita fatos reveladores. Lembra, por exemplo, que o endossulfan, que é um produto perigoso por sua toxidade, tem fábrica apenas na Índia e que o dono da marca é a Bayer. A pressão chega de todo lado porque na verdade, como somos um mercado importante e ninguém quer abrir mão destes lucros, o negócio é atropelar quem se atreve a enfrentar o lobby. O diretor da ANVISA indaga: "Ela (a Bayer) produz na Alemanha? Claro que não. Ela tirou a fábrica dela da Alemanha e botou na Índia e dali manda para o mundo inteiro".

Esta tem sido, na prática, a estratégia de inúmeros setores predadores (a indústria agroquímica é insustentável por excelência): deslocar para países emergentes as suas fábricas poluidoras exatamente porque as pressões nos países de origem são gigantescas, porque não querem que elas continuem destruindo os seus recursos naturais. Não é também por outro motivo que os chineses têm estado doidinhos para instalar aqui seus complexos siderúrgicos, plantas industriais de todo o tipo, já que a China é hoje um exemplo emblemático de degradação ambiental e faz parte da sua estratégia levar para outros países (somos um paraíso nesse sentido) o seu crescimento predatório.

É de lamentar que os governos (e também esse) continuem permitindo que a pasta da agricultura esteja comprometida com interesses empresariais e que estes lobbies surtam efeito (a nosso ver devastador) sobre a saúde e o meio ambiente. A ex-ministra Marina Silva certamente tem muito a dizer sobre isso (e esperamos que o faça durante a sua campanha) como o ministro Minc, que parece ter desistido de vez de denunciar o que ocorre por trás dos bastidores dos ministérios.

A imprensa brasileira, pelo menos a comprometida com os interesses nacionais, deveria estar mais atenta a este embate, mas tem preferido (como o Estadão) estigmatizar a ANVISA e todos aqueles que se opõem a estas pressões insuportáveis. Basta ver a relação incestuosa destes interesses com iniciativas do jornal (a Syngenta é uma das patrocinadoras do seu curso para "focas", assim como a Odebrecht, a Philip Morris e a Oi - belos parceiros, hein?) e a defesa intransigente dos transgênicos e da solução agroquímica em seus arrogantes editoriais.

Devemos dar todo apoio à ANVISA (que poderia ter sido mais enérgica, vamos dizer assim, no combate à ação das redes de fast food) e impedir que se concretize a iniciativa de setores governamentais, com o apoio das empresas, de esvaziá-la, com a capitulação final para setores reconhecidamente promotores da insustentabilidade.

A conscientização para o grave problema dos agrotóxicos deve iniciar-se na formação dos profissionais de imprensa, nas escolas de Jornalismo, em contraposição a este agressivo avanço sobre os cursos promovidos por grandes veículos (caso da Folha e do Estadão, por exemplo) e no estímulo ao espírito crítico e à investigação.

Assim como o mundo moderno, a cobertura jornalística da agricultura deve pautar-se por outros parâmetros e não ignorar a relação quase sempre inconciliável entre o desenvolvimento do agronegócio e o nefasto impacto sócio-ambiental. A nossa vocação agrícola (é preciso deixar bem claro) não nos deve transformar em meros produtores de commodities, não deve conduzir-nos à aceitação de monopólios nem à derrocada da agricultura tradicional. Valorizar a agricultura sim, mas não fechar os olhos ao trabalho escravo, à poluição ambiental, à apropriação escancarada da água doce e assim por diante.

Se a situação permanecer, continuaremos chamando, como faz a imprensa, plantação de eucaliptos de florestas plantadas (que aberração conceitual mais monstruosa!), como se a floresta autêntica não se caracterizasse pela diversidade e tivesse valor apenas quando em pé, e não derrubada para se transformar em madeira e papel ou celulose.

Contra a mentalidade transgênica, a postura monopolística, o emporcalhamento do solo, ar e água, a ação deletéria dos lobbies, somos a favor da ANVISA (mesmo que não endossemos todas as suas iniciativas ou decisões). Falta coragem para as autoridades e precisamos preservar os nichos onde ela pode ser encontrada. Não podemos continuar reféns de interesses poderosos que atentam repetidamente contra a cidadania.

Vamos repetir sempre para que não permaneça qualquer dúvida: agrotóxico é veneno e não remedinho de planta. E mata mesmo. Vamos desmistificar de vez essa história de defensivo agrícola. Essa é a terminologia que só interessa para quem deseja ocultar a verdade.

E parabéns para o Le Monde Diplomatique. Já que a imprensa nacional dá uma de avestruz e esconde a cabeça na areia para não enxergar a realidade que alguém faça isso por nós.

Em tempo: o diretor da ANVISA que se cuide: por dizerem a verdade, muitas autoridades já saíram de cena. Mas, convenhamos, é melhor perder o emprego do que a dignidade. Pelo menos, o sr. Agenor Álvares deve repousar tranquilamente a cabeça no travesseiro ao dormir porque tem desempenhado, no caso dos agrotóxicos, o papel de homem público. Políticos e autoridades que advogam interesses empresariais espúrios certamente não poderão fazer o mesmo. É melhor que tenham eles os pesadelos. A nós compete estarmos mobilizados para que os agrotóxicos não nos façam perder o sono.

Fonte: http://www.ecoagencia.com.br/

NOTA SOBRE COMPETITIVIDADE AGRÍCOLA

Nesta página Notícia - 23 jun 2010

 ONG's assinam nota pública sobre Código Florestal, desmatamento zero e competitividade agrícola em repúdio ao estudo americano “Fazendas aqui, florestas lá”.



Recentemente lançado nos Estados Unidos, o estudo “Fazendas aqui, florestas lá”, patrocinado pela organização National Farmers Union (União Nacional de Fazendeiros), principal sindicato rural norte-americano, e apoiado pela Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado) – uma aliança informal de pessoas e organizações que defendem o fim do desmatamento no mundo, foi feito para promover a aprovação da lei de mudanças climáticas, em tramitação no Senado americano. Um dos dispositivos desse projeto de lei prevê a possibilidade de que grandes poluidores norte-americanos possam compensar suas emissões de gases do efeito estufa, financiando a proteção de florestas em países tropicais. É o caso da Indonésia e do Brasil, onde o desmatamento torna esses dois países o terceiro e o quarto maiores poluidores do clima no planeta, respectivamente.

Elaborado com a intenção de convencer parte da bancada republicana – contrária à lei – a mudar de posição, sobretudo a pertencente a estados com grande produção agropecuária, o estudo defende que o investimento em mecanismos de desmatamento evitado em países tropicais elevaria os ganhos da agricultura norte-americana, não só diminuindo os custos com a mudança de tecnologia para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas, sobretudo, afastando a competição de produtores rurais desses países, que hoje competem diretamente com os americanos pelos mercados de commodities agrícolas. Segundo o estudo, os ganhos poderiam alcançar US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030 só com a diminuição da competição dos países tropicais.

Em função dessa conclusão infundada, esse estudo vem sendo usado, nos últimos dias, por diversos parlamentares e lideranças ruralistas brasileiros para defender a tese de que a proteção de florestas no Brasil é algo que contrariaria o interesse nacional. Com isso, querem justificar a necessidade de aprovação de um projeto de lei que altera dramaticamente a legislação florestal brasileira. Nessa história, no entanto, estão enganados os ruralistas norte-americanos e os brasileiros.

Em primeiro lugar o estudo, que desconhece a realidade brasileira, é equivocado ao assumir que o fim do desmatamento por aqui significaria paralisar a expansão da produção de commodities agrícolas a preços competitivos. Segundo dados da Universidade de São Paulo/Esalq, temos pelo menos 61 milhões de hectares de terras de elevado potencial agrícola hoje ocupadas por pecuária de baixa produtividade e que podem ser rapidamente convertidas em áreas de expansão agrícola. Com o fim da expansão horizontal da fronteira agrícola, há forte tendência de valorização da terra e de substituição dos sistemas de produção agropecuária de baixa produtividade (que garimpam os nutrientes e degradam o meio ambiente) por sistemas de produção mais intensivos e com maior produtividade. Estudos da Embrapa mostram que há um cenário ganha-ganha quando se incorpora tecnologias (recuperação de áreas de pastagens degradadas, agricultura com plantio direto, sistemas integrados de lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta) nas áreas atualmente ocupadas com agricultura e pecuária, aumentando a produção, reduzindo custos e emissões de gases do efeito estufa. No caso do Brasil, onde 4/5 das terras agricultáveis são ocupadas por pastagens, tais ganhos são especialmente expressivos - de forma que poderíamos dobrar nossa produção de alimentos sem ter que derrubar novas áreas de floresta e ainda recuperando aquelas áreas onde o reflorestamento se faz necessário por seu potencial de prover serviços ecossistêmicos.

Portanto, o aumento da produção agrícola não passa necessariamente pelo aumento ou continuidade do desmatamento, como quer fazer crer o estudo norte-americano. Os produtores competitivos não são os que usam métodos do século XVIII, grilando terras públicas, desmatando e usando mão de obra escrava e sonegando impostos. Pelo contrário, são os que investem em tecnologia e mão de obra qualificada para o bom aproveitamento de terras com infraestrutura adequada. Por essa razão até mesmo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, afirma que não é mais necessário desmatar para aumentar e fortalecera produção agropecuária brasileira.

Não devemos esquecer que a preservação e a recuperação de florestas no Brasil interessam, antes de tudo, a nós mesmos. O fornecimento de produtos florestais, a regulação das águas e do clima, a manutenção da biodiversidade, são todos serviços ambientais prestados exclusivamente pelas florestas e indispensáveis à sustentação da agropecuária nacional.

Frente a isso, repudiamos não só as conclusões do estudo norte-americano, como a tentativa de usá-lo para legitimar propostas que, essas sim, atentam contra o interesse nacional, ao permitir o desmate de mais de 80 milhões de hectares e a anistia definitiva para aqueles já ocorridos, o que coloca em cheque a possibilidade de cumprirmos com as metas assumidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e recuperar a oferta de serviços ambientais em regiões hoje totalmente desreguladas, algumas inclusive em desertificação. Aumentar a produção agropecuária com base no desmatamento de novas áreas é uma lógica com data marcada para acabar, tão logo os recursos naturais se esgotem e o clima se modifique. Não podemos, nesse momento em que o Código Florestal pode vir a ser desfigurado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, nos desviar da discussão que realmente interessa ao país, que é saber se precisamos ou não das florestas para o nosso próprio bem-estar e desenvolvimento.

A defesa das florestas é matéria de alto e urgente interesse nacional.

Assinam:

Amigos da Terra – Amazônia brasileira

Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida- APREMAVI

Conservação Internacional – CI-Brasil

Fundação SOS Mata Atlântica

Fórum Carajás

Greenpeace

Grupo de Trabalho Amazônico - GTA

Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia - IMAZON

Instituto Centro de Vida - ICV

Instituto Socioambiental

Tópico: florestas
Tags: ongs,código florestal,desmatamento zero,competitividade agrícola

Fonte:  http://www.greenpeace.org/br